sábado, 5 de dezembro de 2009

Cada
palavra
pesada
gota
a
gota
dilui-se
parte
a
parte
evapora-se
Cada
história
vivida
vai
caindo
vai
saindo
como
a
chuva
gota
a
gota :
uma
outra
forma

domingo, 22 de novembro de 2009

"É preciso saber sentir , mas também saber como deixas de sentir, porque se a experiência é sublime pode tornar-se igualmente perigosa. Aprenda a encantar e a desencantar . Observe, estou lhe ensinando qualquer coisa de precioso : a mágica oposta ao "abre-te sésamo" . Para que um sentimento perca o perfume e deixe de intoxicar-nos , nada há de melhor que expô-lo ao sol."

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

uma história inventada

Você colocou alguém rápido demais na sua cama , amor
Nos nossos sonhos, nos nossos planos é ela que se deita
Não venha me dizer que o lugar estava vago
O que me dói é perceber que tem alguém
ocupando o lugar que já não era meu;
na poesia , na sua cama, com seus amigos
Nem tente me enganar dizendo que tá tudo bem
porque é ela quem passa noite e dia com você
como fazia, lembra?
Tem um novo alguém ocupando o lugar que já não era meu
Antes estava vago, agora já não sou mais eu
Nao tente me enganar dizendo que tá tudo bem.
Minha vaidade não cabe mais no seu edredom , entenda
Nesse lugar que você se deita agora
como criança distraída
Quando entender onde é que sinto, terei partido
É uma pena , amor.
Preste atenção: o que dói é perceber que tem alguém ocupando
o lugar que era meu

sábado, 31 de outubro de 2009

"Viver não é para principiantes"

E eu tenho tentado mudar de fase.

sábado, 17 de outubro de 2009

Será que vai chegar uma hora que de tanto medo e até de uma certa dor , tudo vai incorporando -se como algo tranquilo e indolor ? E a descontrução vai sendo construída como algo pertecente a mim ?
Eu torço para que sim.
Venha logo então

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Depois de tanto tempo consegui escrever

Aprendizagem


Havia uma ponte da finura de uma linha de lã e, lá de longe , do outro lado avistava um céu azul e um arco – íris . Olhava para o meu céu e tudo era tão cinzento, pensava se daria para chegar do outro lado. Calculava o peso de meus pés, percebia que não caberia nesse fio: pés tão grossos e calejados.

Era da beirada que imaginava o que havia de bom do outro lado. Parava e pensava, colocava um dedo, só que na hora de ir com força eu acabava retrocedendo. Mas como sempre vem alguém na vida para te pegar por trás e te jogar para lá do que se possa mensurar.

Fiquei sem pés no chão! No início, foi difícil me equilibrar, o corpo era grande e o espaço singular. Tentei voltar, mas não dava mais, o medo tinha cheiro de vida , me deu vontade de continuar. De cima via o mundo que parecia pequenino demais, o corpo tremia toda vez que me desequilibrava, a sensação era sublimar.

Havia angustia, choro, medo, luta incessante, contudo era em estado de êxtase que minha alma estava a cada passo deixado para trás. O fim não chegava nunca, não chegava nunca e era em estado de êxtase que minha alma estava a cada passo deixado para trás.

segunda-feira, 27 de julho de 2009


Eu quis te convencer mas chega de insistir.

Caberá ao nosso amor o que há de vir

Pode ser a eternidade má

Caminho em frente pra sentir saudade

quarta-feira, 22 de julho de 2009

O horizonte anuncia com o seu vitral. Que eu trocaria a eternidade por essa noite

sábado, 18 de julho de 2009


"- Acho que sim. Muitas coisas você só tem se for autodidata, se tiver a coragem de ser. Em outras , terá que saber e sentir a dois. Mas eu espero. Espero que você tenha a coragem de ser autodidata apesar dos perigos, e espero também que você queira ser dois em um.Sua boca , como eu já lhe disse, é de paixão. É através da boca que você passará a comer o mundo, e então a escuridão de teus olhos não vai se aclarar mas vai iridescer."



sexta-feira, 17 de julho de 2009

E quando vejo o mar, existe algo que diz que a vida continua e se entregar é uma bobagem...

sábado, 20 de junho de 2009

Emaranhado

Nonsense ...
continuo sem entender
Procuro pelo que restou das palavras
e embaixo do que não me dizem
corro atrás do raciocínio perdido
gostar, magoar , perder , não ser
como dizia Clarice
Eu sou mais forte do que eu
Noites de aflição como essas
terei ainda aos montes
o que não sei é
se sofrer é mais mania
do que essência do meu ser
ele inspira meu viver
No entanto todo dia nos renovamos
em um novo quê.

janeiro 2006

domingo, 31 de maio de 2009

Cabeça cheia, confusa, desorganizada.Nem sei bem o que vim fazer aqui.
É Caio, Adélia , Clarice ,Lawrence, livros que preciso ler, tudo ao mesmo tempo.
É o velho medo de crescer. Está quase faltando dois anos e ainda igual.
Minhas mãos não acompanham o pensamento. Meu coração não sabe o que dizer , é tanta coisa que vai me tomando.
São poesias que me gritam.

"Não sei , não sei deixo rolar, vou olhando os caminhos o que tiver mais coração sigo."

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Não há vagas

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão


O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

o poema, senhores,
não fede
nem cheira

Ferreira Gullar

domingo, 17 de maio de 2009

A vida dói de vez em quando.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Para uma Avenca partindo
(Caio Fernando Abreu)

Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende? Olha, falta muito pouco tempo, e se eu não te disser agora talvez não diga nunca mais, porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme dessas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porque elas não foram existidas completamente, entende, porque a vivemos apenas naquela dimensão em que é permitido viver, não, não é isso que eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando meu raciocínio? Falava do mais fundo, desse que existe em você, em mim, em todos esses outros com suas malas, suas bolsas, suas maçãs, não, não sei porque todo mundo compra maçãs antes de viajar, nunca tinha pensado nisso, por favor, não me interrompa, realmente não sei, existem coisas que a gente ainda não pensou, que a gente talvez nunca pense, eu, por exemplo, nunca pensei que houvesse alguma coisa a dizer além de tudo o que já foi dito, ou melhor pensei sim, não, pensar propriamente dito não, mas eu sabia, é verdade que eu sabia, que havia uma outra coisa atrás e além das nossas mãos dadas, dos nossos corpos nus, eu dentro de você, e mesmo atrás dos silêncios, aqueles silêncios saciados, quando a gente descobria alguma coisa pequena para observar, um fio de luz coado pela janela, um latido de cão no meio da noite, você sabe que eu não falaria dessas coisas se não tivesse a certeza de que você sentia o mesmo que eu a respeito dos fios de luz, dos latidos de cães, é, eu não falaria, uma vez eu disse que a nossa diferença fundamental é que você era capaz apenas de viver as superfícies, enquanto eu era capaz de ir ao mais fundo, você riu porque eu dizia que não era cantando desvairadamente até ficar rouca que você ia conseguir saber alguma coisa a respeito de si própria, mas sabe, você tinha razão em rir daquele jeito porque eu também não tinha me dado conta de que enquanto ia dizendo aquelas coisas eu também cantava desvairadamente até ficar rouco, o que eu quero dizer é que nós dois cantamos desvairadamente até agora sem nos darmos contas, é por isso que estou tão rouco assim, não, não é dessa coisa de garganta que falo, é de uma outra de dentro, entende? Por favor, não ria dessa maneira nem fique consultando o relógio o tempo todo, não é preciso, deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço, claro, claro que eu compro uma revista pra você, eu sei, é bom ler durante a viagem, embora eu prefira ficar olhando pela janela e pensando coisas, estas mesmas coisas que estou tentando dizer a você sem conseguir, por favor, me ajuda, senão vai ser muito tarde, daqui a pouco não vai mais ser possível, e se eu não disser tudo não poderei nem dizer e nem fazer mais nada, é preciso que a gente tente de todas as maneiras, é o que estou fazendo, sim, esta é minha última tentativa, olha, é bom você pegar sua passagem, porque você sempre perde tudo nessa sua bolsa, não sei como é que você consegue, é bom você ficar com ela na mão para evitar qualquer atraso, sim, é bom evitar os atrasos, mas agora escuta: eu queria te dizer uma porção de coisas, de uma porção de noites, ou tardes, ou manhãs, não importa a cor, é, a cor, o tempo é só uma questão de cor não é? Por isso não importa, eu queria era te dizer dessas vezes em que eu te deixava e depois saía sozinho, pensando também nas coisas que eu não ia te dizer, porque existem coisas terríveis, eu me perguntava se você era capaz de ouvir, sim, era preciso estar disponível para ouvi-las, disponível em relação a quê? Não sei, não me interrompa agora que estou quase conseguindo, disponível só, não é uma palavra bonita? Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que ama era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender, melhor, claro que eu dou um cigarro pra você, não, ainda não, faltam uns cinco minutos, eu sei que não devia fumar tanto, é eu sei que os meus dentes estão ficando escuros, e essa tosse intolerável, você acha mesmo a minha tosse intolerável? Eu estava dizendo, o que é mesmo que eu estava dizendo? Ah: sabe, entre duas pessoas essas coisas sempre devem ser ditas, o fato de você achar minha tosse intolerável, por exemplo, eu poderia me aprofundar nisso e concluir que você não gosta de mim o suficiente, porque se você gostasse, gostaria também da minha tosse, dos meus dentes escuros, mas não aprofundando não concluo nada, ...fico só querendo te dizer de como eu te esperava quando a gente marcava qualquer coisa, de como eu olhava o relógio e andava de lá pra cá sem pensar definidamente e nada, mas não, não é isso, eu ainda queria chegar mais perto daquilo que está lá no centro e que um dia destes eu descobri existindo, porque eu nem supunha que existisse, acho que foi o fato de você partir que me fez descobrir tantas coisas, espera um pouco, eu vou te dizer de todas as coisas, é por isso que estou falando, fecha a revista, por favor, olha, se você não prestar muita atenção você não vai conseguir entender nada, sei, sei, eu também gosto muito do Peter Fonda, mas isso agora não tem nenhuma importância, é fundamental que você escute todas as palavras, todas, e não fique tentando descobrir sentidos ocultos por trás do que estou dizendo, sim, eu reconheço que muitas vezes falei por metáforas, e que é chatíssimo falar por metáforas, pelo menos para quem ouve, e depois, você sabe, eu sempre tive essa preocupação idiota de dizer apenas coisas que não ferissem, está bem, eu espero aqui do lado da janela, é melhor mesmo você subir, continuamos conversando enquanto o ônibus não sai, espera, as maçãs ficam comigo, é muito importante, vou dizer tudo numa só frase, você vai ... ...... ............ ........... ............ ................. ............... ............. ....... ........... ........... ............ ......... ........... ............... ............... ................ ............. sim, eu sei, eu vou escrever, não eu não vou escrever, mas é bom você botar um casaco, está esfriando tanto, depois, na estrada, olha, antes do ônibus partir eu quero te dizer uma porção de coisas, será que vai dar tempo? Escuta, não fecha a janela, está tudo definido aqui dentro, é só uma coisa, espera um pouco mais, depois você arruma as malas e as botas, fica tranqüila, esse velho não vai incomodar você, olha, eu ainda não disse tudo, e a culpa é única e exclusivamente sua, por que você fica sempre me interrompendo e me fazendo suspeitar que você não passa mesmo duma simples avenca? Eu preciso de muito silêncio e de muita concentração para dizer todas as coisas que eu tinha pta te dizer, olha, antes de você ir embora eu quero te dizer quê.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Enquanto estou ocupada , ponho alguns escritos antigos .
Ando precisando de poesia, de lirismo .O tempo tem corrido demais
Está me fazendo falta.
PERICLITANTE
E eu serei a última a crescer
pra minha mãe não perceber
das primaveras que foram
Quantas! só o branco cresceu
nos cabelos dela e agora no meu.
Sou ainda a que chora
por ter menstruado.
Essa que guarda a timidez no olhar
um singelo sorriso pra agradar
correndo para o mundo não triturar meus sonhos
Eu não cresci não
minha avó não deixou
impediu-me de atravessar na frente dos carros.
sozinha,
sentada,
quietinha,
escondendo -me dos amigos
os poucos que tive.
sai da frente!
eu corro perigo.
periclitante!
Eu sou o perigo.
perigo!
Desejo;
ensejo;
fonte de açúcar ;
e fel.
Vontade ;
vitamina de abacate ;
lambuzado de beijos seus.
Delírios;
fruição e arrepio
bem perto da covinha
pedaço das costas
de alguém não se sabe bem
seu sangue
na veia
corpos misturados
na cama
nua, sua
toda feita
como você sabe bem
retrato 3x 4
tirado de dentro
de onde pulsa
Nadie


Todo dia ela acorda, toma banho , arruma os cabelos de fuá, coloca uma roupa limpa , toma seu café com leite com torradas e sai pra trabalhar. Tem dias em que decide mudar , então toma banho depois e , primeiro ajeita seus cabelos de fuá. As vezes troca o caminho do trabalho com a esperança de encontrar alguém interessante que lhe faça sair da rotina . Todo dia ela senta na mesma cadeira, a mesa sempre igual : computador velho sem internet , mesa pequena de madeira escura. Todo dia ela trabalha duas horas e, quando acaba tudo , ainda tem seis para jogar paciência no computador. Depois, segue para casa , toma banho , janta com a tv ligada ,só para ouvir barulho e pensar que esta acompanhada do José Wilker. Lê um livro que acabara de comprar no sebo , porque uma vez por semana ela passa no sebo e escolhe outro romance, até pegar no sono , e dorme , dorme , dorme e sonha que é feliz. Quando acorda ela pensa que poderia ter um clone pra refazer o seu dia de novo. Todo dia ela ouve as pessoas falarem e sente a mesma inadequação dos dias anteriores e dos que ainda virão. Ela sempre ri das piadas que não achou graça , ri de nervoso. Tem dias que uns cinco colegas lhe param para contar as desgraças e desilusões amorosas ... Ela ouve com uma paciência de Jó e sente sempre um pouco de inveja . Afinal, depois eles sempre aparecem melhores. Nadie bate o cartão e volta para casa , faz tudo que falta para terminar o dia . Lê um livro em espanhol e descobre que a palavra nadie em espanhol significa "ninguém" .Acha engraçado, ri e comenta com a sua tartaruga . E foi neste dia, que descobriu que a sua amiguinha estava morta . No inicio começou a chorar , depois comemorou . Afinal, tinha algo de novo em sua vida , enfim percebeu que estava viva . Não dormiu para chegar no trabalho com a cara bem amassada , ensaiou os gestos de tristeza e dor no espelho . No dia seguinte chegou cinco minutos atrasada , pronto ! estava certa que todos iriam notar. Mas justamente, neste dia todos estavam super atarefados . O flamengo tinha perdido , os ônibus estavam em greve . E para piorar todos iam ter que fazer hora extra no fim de semana . o chefe acabara de anunciar quando o primeiro bateu o cartão. Ela exagerou na cara triste não saiu para almoçar , não riu de nenhuma piada , não cumprimentou as faxineiras . E ainda assim, ninguém notou. Até que ela não agüentou e contou pra Ana ,colega da frente ,em voz alta e a Ana sussurrou um, "humm que pena!" Ana está com a cabeça cheia vai casar mês que vem . Depois perguntou para Creusa , "Vc ouviu o que eu falei com a Ana", e a Creusa disse, "hum rum ", o neto da Creusa está doente, ela já está com cara de enterro. João faz uma cara de "que pena", e pede se ela pode terminar o serviço dele . É que ele tem um encontro com uma mina que conheceu na internet. Ela sai quinze minutos depois, passa na padaria ,compra sonhos , vai ao sebo e compra um novo
O Biombo
"Não me deixe só, mas não chegue tão perto assim. não me abraçe, não me solte. não me faça te querer."

Um tabique de madeira escura foi colocada ali antes da mudança , um biombo entre os dois , como preferia dizer. O que dividia . Só assim é possível compartilhar , filosofava ele entre uma e outra baforada de cigarro . Matérias não se misturam ou não te disseram isso ?! Sempre terminava com esta afirmação interrogativa .
Foi o biombo que o impediu de viver com ela , faltou ousadia para entrar no indevassável .Era alto e escuro o , o biombo .Só depois que o conheci comecei a prestar atenção nesse significado .Biombo . Palavra leve , um pombo voando talvez , é minha cabeça que vê poesia em tudo . Um vocábulo necessário, para ele , como uma porta , uma porta feérica poderia ser, dessas em que todos deveriam ter acesso de vez em quando para entrar e sair sem serem vistos , e até concordo que isso facilitaria a vida , quem nunca acordou e tudo o que mais quis foi chegar ao seu destino sem precisar não irritar- se com papos banais e pessoas chatas , um sonho de consumo em determinados momentos .
O biombo era para mim um termo solitário , como ser livre e não conseguir se libertar do cárcere .Mas ele definia como uma possibilidade de viver uma vida , digamos , mais saudável. Acordei com vontade de dizer tudo isso a ele , aposto que adoraria me ouvir filosofar , mas achei melhor permanecer aqui com meus livros e cadernos sobre a cama , vai que acaba interpretando mal , adora codificar o meu dito e o não , ama bancar o sabichão .Certamente , ficaria irritado e logo pediria um tempo pela invasão .
Não ,hoje eu fico aqui ouvindo meus cds que ele odeia , fingindo que a análise já me fez dona de mim .Na espera do telefone .Ele vai me ligar ou assobiar três vezes para eu adentrar com o falso ar de "não preciso de você para nada". Às vezes eu percebo que ele tiraria a divisão se eu não fosse e voltasse tantas vezes no mesmo dia .É que quem manda em mim pulsa e age tão mais rápido que a razão .Eu me amo nele , ele não .Eu deixo .Me escondo quase que instintivamente , mas quando saio sou assim , meio , visceral . Sem maquiagem , ele vê sempre tudo .
Todo sábado não há biombos entre nós , e neste dia , acordo uma hora antes , me ajeito e chego a esquecer que Clarice Lispector é quem mais bem faz à minha alma .E eu percebo que ele , de maneira sensível e racional , corresponde o afeto com quase tudo que tem de melhor , o que resta ele deixa para ele ,:a maior parte qualitativamente , talvez .E eu digo que só me importo com o que sinto e finjo até que prefiro simplificar a vida. A única coisa que nós deixamos claro com olhares é a semana seguinte e, eu brinco de faz de conta que eu só me preocupo com a gente .Ainda que eu saiba o nome de quem o divide comigo .É inefável .O único porvir que não me é surpreendente nele é a inconstância .Mas quem disse que eu me importo com isso ? Me importo . Chego a fazer planos de passar um tempo estudando do outro lado do mundo , mas logo desisto .
Quando dá seis horas corro para casa para esperar por ele .Repito pra mim mesma até dizer chega que a pressa toda é para não perder a minha novela preferida e passo horas sem lembrar do meu discurso sobre a frivolidade da televisão .Alguém pode me dizer para que lado eu devo ir para encontrar a saída ?! Eu sei meu coração é abjeto de pureza .E o que eu quero agora é dez anos de garantia .Mas até os cupins corroem madeiras com o tempo .Quem sabe ? Não sei, hoje é dia apenas de sentir .Domingo repenso tudo isso.