O dia em que vi uma estrela de perto
Ela devia ter uns seis anos,
cabelos enrolados, ligeiramente dourados; sua pele era morena e seus olhos da
cor de mel contrastavam com seu rosto esférico, ressaltava o semblante
destemido. Ela andava com a leveza de uma criança feliz. Mas não era só isso
que havia nela.
Seu nome representava magnetismo,
independência e decisão. Kaiane veio me
mostrar que a escolha do nome pode trazer bons auspícios na vida de um ser.
Foi em uma noite quente de verão
que a conheci . Era uma noite diferente das outras noites, havia um frescor maior naqueles ventos, como se um anjo estivesse ali.
Em meio a diversas luzes e sons de
batucada, na Marquês de Sapucaí, estavam
diversas pessoas que ali rendiam- se a magia do Carnaval. Eu que nunca gostei de samba, fiquei fascinada
pela paixão das pessoas.
Kaiane estava ali na
multidão, com seus olhos brilhando como o de gente grande, do lado dela estavam
seus avós que diferente dela , estavam paralisados, taciturnos e seus corpos
expressavam tédio, como quem assiste a um filme monótono e chato.
A menina junto deles sobressaía, mesmo sem fantasia parecia fantasiada. Ao ouvir a voz de
um chileno, começava a rir, sem medo, interrogava como menina travessa,“Por que você não fala normal”? Nesse momento, arrancou risadas e olhares .
Ela sorria, sambava como adulto,
me chamava para acompanhá-la na dança, e eu tímida e hipnotizada por aquela
menina, não correspondia .Ela fazia careta, virava as pálpebras e assustava as
pessoas, ofuscando os passista .Em um momento, olhou-me com ar doce e disse-me "Você é linda"! Pronto! já estava encantada . De repente, pensei como algumas pessoas já nasceram com o dom de conquistar e ela tão pequena podia até nos ensinar.
Nós sorríamos tanto uma para a outra
que parecia que ela estava só, de fato, parecia que estava, pois em nenhum momento seus
avós olhavam para trás, para saber o que fazia. Ela era a criança mais livre e só
que havia visto. Até que em um momento, como quem quer companhia, ela pediu para ficar ao meu lado; eu sorri e lamentei, disse que seu avô poderia não gostar, embora acredito que nem
percebesse sua ausência.
Foi então nesse dia que percebi que
algumas pessoas nascem com mais luz que as outras. No meio ao samba, Kaiane foi puxada pelos
seus avós e tudo que conseguimos dizer foi “tchau”, mas jamais esquecerei do dia em que vi de perto uma estrela.
Tenho desejado ver um estrela de perto.
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